Frutos do Cerrado

O Cerrado é a savana mais rica do mundo em biodiversidade, com mais de 12 mil espécies identificadas, dispersas em 37 ambientes, formando um complexo vegetacional de múltiplas paisagens, que ocupa cerca de 36% do território brasileiro, considerando suas áreas de transição.

Baru, faveira, pequi, jatobá, babaçu, macaúba e buriti são alguns frutos do Cerrado que boa parte da população brasileira deve conhecer. Esses frutos se destacam pelos seus nutrientes ricos em substâncias antioxidantes, além de alta quantidade de vitamina. Também são ricos em proteínas, fibras e minerais. Conheça alguns dos tesouros do Cerrado que podem ser consumidos em sua forma natural e também em sucos, sorvetes, geleias, bolos, mingaus, entre outros aperitivos.

Babaçu (Orbignya speciosa)

Palmeira encontrada nos estados do Tocantins, Maranhão, Piauí, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso, o babaçu é utilizado há séculos pelas populações tradicionais como fonte de alimento e material para a construção de casas e energia. Sua importância equivale à sua economia que gera a sobrevivência de diversas famílias, a citar as quebradeiras de coco, mulheres que pelo ofício construíram a sua identidade.

Pode ser encontrada isolada ou de forma massiva, caracterizando babaçuais, sendo também abundante em áreas perturbadas (que ainda não perderam a sua capacidade de autorregeneração). Começa a produzir entre sétimo e oitavo ano de vida, alcançando plena produção aos 15 anos, atingindo em média 35 anos de vida.

Do babaçu se aproveita tudo, a estipe (caule) que pode ser usada no esteio de casa e construção de pontes. Quando cortado, é possível usar a seiva para fazer uma bebida fermentada e também pode-se aproveitar o palmito, que é comestível.

As folhas novas são usadas para diversos utensílios como cestos, peneiras, esteiras e chapéus; as folhas maduras servem para cobrir casas; e seu pedúnculo (haste que sustenta o fruto) fornece um líquido açucarado, bebido depois de fermentado por indígenas.

Seus frutos são valiosos, pois se aproveita a amêndoa para extrair óleo utilizado como alimento, cosméticos, industriais (fabricação de sabonetes, margarina, gorduras especiais e óleo de cozinha), como também pode ser infestado por uma larva, que é comida depois de assada. O óleo de babaçu tem aroma de avelã e é usado em pratos regionais, especialmente à base de peixe.

A casca e o endocarpo lenhoso podem ser usados para fazer xaxim, carvão e fumaça para repelir insetos, assim como para fazer biojóias. Os frutos imaturos são queimados para defumar borracha e o mesocarpo é consumido como manteiga e serve de alimento para animais.

As amêndoas verdes (recém-extraídas), raladas e espremidas com um pouco de água em um pano fino fornecem um leite com propriedades nutritivas semelhantes às do leite humano.

É muito usado ainda na culinária local, como tempero para carnes de caça e peixes, substituindo o leite de coco-da-baía, e como mistura para empapar o cuscuz de milho, de arroz e de farinha de mandioca.

Baru (Dipteryx alata)

É um verdadeiro tesouro do Cerrado, rico em nutrientes essenciais para a nossa saúde. Essa leguminosa é apreciada pelo sabor inigualável de sua castanha que tem valor nutricional importante para a manutenção das funções orgânicas, sendo considerado rico em ferro, zinco, magnésio, fósforo e cobre e fonte de cálcio e fibras.

Os frutos de baru maduro apresentam coloração marrom e são coletados no chão por agroextrativistas do Cerrado, que deixam parte deles para reprodução natural da espécie. A castanha deve ser consumida torrada, podendo ser utilizada como ingrediente no preparo de diversas receitas doces e salgadas. A castanha de baru é fonte de proteínas, contém óleo, fibras solúveis, e é rica em vitaminas e sais minerais. Os frutos amadurecem no período de agosto a setembro e servem c omo alimentos para morcegos, roedores, araras, macacos e para o gado.

  • Polpa: de cor marrom, muito doce, deve ser consumida processada ou na forma de geleia e licor.
  • Óleo: rico em ômega 9, o óleo extraído é semelhante ao azeite e tem 81% de instauração. Obtido por meio do processamento das amêndoas, é utilizado na alimentação humana de maneira variada. É ainda antirreumático.
  • Amêndoa (castanha de baru): a amêndoa fica dentro do fruto e deve ser consumida torrada, podendo ser utilizada para enriquecer diversas receitas de pães, bolos, sorvetes, acompanhar aperitivos, ou ainda em doces, paçoquinhas, granolas, barras de cereais. Vem sendo utilizada desde 2001 na alimentação escolar. Segundo estudos, em 30 gramas de castanha de baru, o equivalente a 1/2 xícara de chá, há 1,4 miligrama do mineral ferro, que combate a anemia.
  • Da casca (endocarpo): é produzido um carvão ecológico (pesquisa CEDAC/LPF/IBAMA – apoio MMA) com poder calorífico superior ao carvão de lenha nativa e de eucalipto.

O baru é campeão: compare os teores de calorias e minerais nas oleaginosas.

 

Buriti (Mauritia flexuosa)

Uma das palmeiras mais abundantes do Brasil, a espécie possui íntima relação com a água e sinaliza as veredas. Produz grande quantidade de frutos que servem como alimento para pequenos mamíferos e diversas aves como a arara, que se encarregam de dispersar suas sementes. Os buritis abrigam a arara-canindé, que ali se alimenta dos frutos e usa buritis secos para construir o seu ninho.

As veredas são áreas bastante afetadas pela intervenção do homem, tanto no que se refere aos desmatamentos quanto à utilização da água, ou mesmo pelas queimadas constantes para a rebrota do capim. Em alguns lugares é muito comum a derrubada da palmeira para a colheita dos frutos devido à altura que pode chegar a 30 metros. Floresce com até 10 anos de idade.

A maturação dos frutos ocorre de outubro a março em plantas femininas. A população extrativista identifica dois tipos de buriti: um com mesocarpo de coloração alaranjada e outro, mais oleoso e preferido para elaboração do vinho, com polpa de cor avermelhada.

  • Polpa: de cor laranja, rica em vitamina A, pode ser consumida ao natural, na forma de sucos, sorvetes, doces ou desidratados.
  • Óleo: extraído da polpa dos frutos, tem propriedades energéticas e medicinais (cicatrizante) e é também a base para cosméticos, além de ser um eficiente filtro solar.
  • Artesanato e arquitetura: os talos e a palha de suas folhas são muito utilizados na cobertura de casas e ranchos, bem como no artesanato regional, para a confecção de cestos e móveis. A utilização das folhas e talos não prejudica a palmeira, pois são retiradas para uso apenas quando secas. As folhas jovens também produzem uma fibra muito fina, a “seda” do buriti, usada pelos artesãos na fabricação de peças feitas com capim-dourado.
Copaíba (Copaifera sp)

Copaibeiras ou pau d’óleo, as copaíbas são encontradas na América do Sul e África do Sul. No Brasil, são facilmente encontradas na região amazônica e no Cerrado. São árvores de crescimento lento, que alcançam de 25 a 40 metros de altura, podendo viver até 400 anos. A floração e frutificação ocorrem a partir dos 5 anos de idade em plantios. A floração ocorre entre outubro e julho e a frutificação entre junho e outubro, com variações dentro destes intervalos, dependendo da região e clima, com ausência de florescimento anual, em algumas regiões.

Óleo-resina: é produto da desintoxicação do organismo vegetal e funciona como defesa da planta contra animais, fungos e bactérias. O óleo-resina da copaíba pode ser usado puro (“in natura” ou destilado) ou como componente na preparação de uma variedade de produtos terapêuticos e cosméticos, como xaropes, pomadas, cápsulas, óvulos vaginais, cremes, sabonetes, xampus, detergentes e loções; possui ainda potencial para uso industrial em tintas, vernizes e como fixador de fragrância de perfumes.

Faveira (Dimorphandra mollis)

Favela, fava d’anta, fava de arara, falso barbatimão e faveira são alguns dos diversos nomes que identificam essa espécie, conhecida nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Tocantins e Maranhão. Planta caducifólia (perde suas folhas em determinadas épocas do ano), é pioneira de plena adaptação a solos pobres, ocorrendo de forma agrupada devido à sua dispersão principalmente por aves (tucanos e arara) e mamíferos (anta, bovino). A floração acontece no período de janeiro a julho e a frutificação nos meses de abril a agosto.

  • Frutos: De uso medicinal, sendo as favas uma fonte excepcional de flavonóides (rutina, quercetina e ramnose), substância usada pela indústria farmacêutica para a produção de medicamentos contra problemas circulatórios (hipotensor – abaixa a pressão sanguínea). Estas substâncias atuam como antioxidantes, facilitam a circulação do sangue, têm efeitos na oxidação de lipídios, são anti-inflamatórias, anti-carcinogênicas, radioprotetoras e trazem ainda outros benefícios.
  • Sementes: apresentam potencial de exploração de galactomananos para uso industrial, tecnológico e na indústria de alimentos.
Ipê Roxo (Tabebuia avellanedae)

Nativa dos estados brasileiros do Acre, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. Costuma viver em matas ciliares no Cerrado, e em áreas perto de rios.

Ocorre também na Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela, na América do Sul; em El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá, na América Central; e no México (América do Norte).

Usado como analgésico e auxiliar no tratamento de doenças estomacais e da pele. Substância com propriedades terapêuticas/médicas é encontrada na casca. Sua utilização popular no Brasil envolve o uso em banho e chás das folhas, a fervura da entrecasca (caule e cascas) e garrafadas com indicações que incluem gripes, bronquite, sinusite, impetigo, úlceras sifilíticas e blenorrágicas, tratamento local de cervicite e cervicovaginite, controle da anemia (anti anêmica), cistite (diurético), “sangue grosso”, calmante, alívio das inflamações de ouvido, dor no corpo (anti-reumática), picada de cobra, afta, gastrite, verminoses, diarreia, e câncer (leucemia, tumores), muito embora os estudos ainda não tenham comprovado suas propriedades anticancerígenas.

Jatobá (Hymenaea stigonocarpa)

O nome popular “jatobá” é originário da língua guarani com o significado de “árvore de fruto duro”. Com altura entre 15m e 20m e tronco que chega a 1m de diâmetro. Outros nomes para o jatobá são: jatobá-do-campo, jatobá-da-serra, jatobá-de-casca-fina, jataí.

Polpa: de cor esverdeada ou castanha clara, tem aroma exótico. Quando raspada produz uma farinha que é utilizada em receitas de biscoitos, bolos, pães, doces e sorvetes. É um dos ingredientes da Granola do Empório do Cerrado. Alguns benefícios da farinha de jatobá na alimentação foram analisados em trabalho de formulação de biscoitos sem açúcar e fonte de fibras alimentares, para diabéticos ou pessoas sob restrição alimentar.

Como planta medicinal: diferentes partes da planta já eram usadas pelos povos indígenas do Brasil, muito antes da chegada dos portugueses, contra diarréia, tosse, bronquite, problemas de estômago e como cicatrizante. As folhas e a casca possuem um grupo de substâncias (terpenos e fenólicos) com propriedades antifúngicas, antibacterianas, moluscidas, comprovadas em vários estudos. Do caule se extrai o vinho do jatobá, excelente estimulante e fortificante e pela exsudação nos frutos e caule produz uma resina sólida com propriedades medicinais.

Macaúba (Acrocomia aculeata)

Conhecida também por bocaiúva, coco babão e coco xodó, esta palmeira ocorre desde o sul do México Antilhas até no sul do Brasil, nos estados da Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e Tocantins. Normalmente sua ocorrência em agrupamentos com grandes populações está associada a áreas antropizadas. Encontrada também em formações secundárias como capoeiras, entretanto de forma descontínua. Arborescente espinhosa, pode chegar até 16 metros de altura.

A macaúba floresce e frutifica o ano todo, com maior intensidade na época chuvosa (novembro a dezembro) e os frutos amadurecem entre setembro e janeiro. Considerada uma planta indicadora de solos férteis. Apresenta grande tolerância ao fogo, só deixando de produzir um ano e voltando a produzir no ano seguinte. As flores femininas se encontram na base da inflorescência e as masculinas no topo. Os principais polinizadores são besouros e abelhas do grupo Trigonia. As sementes podem levar até dois anos para germinar.

Esta palmeira tem forte interação com a fauna. Seus frutos integram a dieta de araras, capivaras, antas, emas, entre outros animais que atuam como dispersores das sementes.

Os frutos são esféricos com epicarpo, mesocarpo fibroso e mucilaginoso, rico em glicerídeos, com endocarpo fortemente aderido à polpa e à amêndoa oleaginosa.

Frutos: são comestíveis, onde a polpa pode ser consumida “in natura” (chiclete pantaneiro), cozida no leite como mingau para crianças, em sorvetes ou em receitas com a farinha (bolo, pão, sequilho, recheio de bombom) ou mesmo processada, sendo possível, quando madura, a extração de óleo utilizado na indústria química e de sabões, dentre outros, destacando-se pela sua alta lubricidade e rendimento.
Amêndoa: dela se extrai um óleo vegetal fino e claro, similar ao azeite de oliva, utilizado na indústria de alimentos, bem como na fabricação de cosméticos. Tem se destacado na fabricação de sabonete artesanal obtido pelo processo a frio, denominado no meio como “cold process”.
Do miolo do tronco se faz uma fécula nutritiva. As folhas são forrageiras e têm fibras têxteis usadas para fazer redes e linhas de pescar. A madeira é usada em construções rurais.
Endocarpo: carvão de alta qualidade, energeticamente superior ao carvão vegetal convencional. Pode ser utilizado em substituição total ou parcial do coque mineral em forjarias e em ferro-ligas, além de padarias, pizzarias e aquecimento de piscinas.

Pequi (Caryocar brasiliense)

O pequizeiro é uma árvore que habita cerrados, cerradões e matas secas ao longo de todo o bioma Cerrado, florescendo durante os meses de agosto a novembro, com frutos madurando a partir de setembro até o início de fevereiro. Como alimento é bastante consumida, sendo considerada a “carne dos sertanejos”, utilizando a polpa e a semente em preparações como em comidas típicas, bebidas adocicadas, óleos e condimentos. O pequi integra a base cultural do Centro-Oeste brasileiro, sendo um elemento essencial na culinária regional, como a tradicional Galinhada com Pequi. Os frutos devem ser colhidos no chão, quando estão maduros.

Polpa: é uma camada fina de sabor exótico que cobre o caroço. Deve ser comida com cuidado, pois o caroço é cheio de espinhos. Da polpa e semente se extrai o óleo usado na fabricação de sabão e também em cosméticos, devido às características do ácido oléico e betacaroteno, importantes na absorção da radiação ultravioleta, estando associado a anti-radicais livres. O óleo da polpa tem efeito tonificante, sendo usado contra bronquites, gripes e resfriados, no controle de tumores. É comum o óleo ser misturado ao mel de abelha ou banha de capirava, em partes iguais, e a mistura resultante ser usada como expectorante.
Amêndoa: a castanha existente dentro do caroço é muito saborosa. Para comê-la, basta deixar os caroços secarem por uns dois dias e depois torrá-los.
Folhas: delas se faz um chá utilizado como regulador do fluxo menstrual.
Flores: são importantes na alimentação de animais silvestres, como a paca e o veado.
Casca: dela se extrai corantes amarelos empregados em tinturaria, contendo igualmente alto teor de tanino.